Concurso "Viajando na Leitura 2022" - 1.º Período - Modalidade: Ilustração

  

        Contos do Padre Brown, G.K. Chesterton e Professor Otto Lidenbrock


                                                                                                               Ricardo Afonso, 8.º C


Os ciganos, Sophia de Mello Breyner Andresen

                                                                                               Rita Reis, 6.ºA

Concurso "Viajando na Leitura 2022" - 1.º Período - Modalidade: Comentário

 

Contos do Padre Brown

G.K. Chesterton Professor Otto Lidenbrock

        

O Martelo de Deus

Relativamente ao conto “O Martelo de Deus”, adorei a sua leitura, pois tem uma escrita rica e diversificada.

O autor relata os erros cometidos por uma família afetivamente distante, que mais tarde, se arrepende deles. O interessante é que o autor utiliza Deus como a verdadeira entidade à qual a personagem recorre para pedir perdão pelos erros cometidos. Neste conto, concretamente, foi uma das personagens que matou o seu próprio irmão, num momento de raiva. Também aborda um assunto importante e recorrente: quem faz a maldade nem sempre é a pessoa que se pensa, logo “As aparências iludem”.  

Retiro como lição deste conto o seguinte: não devemos cometer maldades mesmo que as pessoas as tenham feito connosco, porque tudo o que fazemos ao outro volta para nós. Precisamos de ter mais consciência de que temos de nos respeitar e amar. É um conto que nos faz refletir sobre um tema presente no mundo de hoje em dia, ou seja, a rivalidade e a ausência de laços afetivos da própria família e também, a partir daí, os erros cometidos devido a este tipo de atitude mais fria e egoísta.

 Para concluir, aconselho vivamente a leitura deste conto, embora para um público mais crescido devido à complexidade da narrativa.  

Matilde Gonçalves 8.ºA


Concurso Uma Aventura...Literária 2021

 Concurso Uma Aventura...Literária 2021 - Menção Honrosa


Texto Original

PARABÉNS
Ricardo Rocha, do 7.ºC!

O Velho Raposão

Lá estava ele a passear com o seu desbotado guarda-chuva. Cauda parda, botas e orelhas negras, focinho arrebitado e branco de bigodes vulpinos. Varria o chão por onde passava com a sua cauda felpuda. Percorria a mata num passo lento e cauteloso, não fosse ele encontrar um coelhinho.

Não tinha propriamente um nome, pois era conhecido como o Velho Raposão. Havia tido bastante sucesso em vida visto que dispunha de várias moradias, mas não passava de um rico burguês que todos temiam, incluindo o rei da floresta.

Enquanto passeava, encontrou-se com um jovem javali, que rebolava na pruma. O desgraçado do porco nem se apercebeu que o ancião o observava. A certa altura, o raposão decidiu falar-lhe:

- Está um bom dia para nos sujarmos! Não é, porquinho?

O javali, surpreso por não ter reparado na presença deste, respondeu-lhe:

- Bom dia, senhor! Sabe, é que estou com uma comichão terrível no meu pescoço desde que fui ao nosso vizinho Espanha…

- Então é isso…- pronunciou-se, interessado.

- Sim, Excelência!

O velho continuou o seu passeio pelo matagal e rapidamente desapareceu na folhagem. Dirigiu-se para a sua toca oficial. Não pensem que era um buraco escuro, imundo e fedorento, pois não era; era sim uma moradia que se preze. Era isolada do resto do reino e tinha lá a mais bela mobília, louça, pintura, comida, tudo entre um chão e teto de madeira.

Sentou-se na sua poltrona escarlate, entre uma janela e a lareira, e pôs-se a contemplar o vazio da sua sala de estar. Porém, cansou-se rapidamente e começou a ler um livro de bolso.

Pela calada da noite, bateram à porta do aprisco. O raposo deparou-se então com Colombo, o corvo encarregado de revelar as “notícias” de última hora.

- Boa tarde, vossemecê. Venho informá-lo de que, por ordem do rei Corso, teremos de permanecer nas nossas residências, porque anda a circular uma espécie de gripe que infeta todo o tipo de seres. Se tiver algum sintoma, escreva ao curandeiro da sua zona territorial. -informou-o a ave com uma certa preocupação.

- Muito bem!

E fechou a porta no bico do corvo.

O raposão assim cumpriu. No entanto, por vezes, olhava para além da janela da sua casa e via pequenos grupos a festejar o aniversário de alguém, ou batizados, ou comunhões, enfim, coisas muito pouco corretas. O que é certo é que o velhote só saía do antro para caçar.

Houve várias vagas da praga, mas nenhuma chegou a atormentar o raposo. Mais tarde, soube-se que não só prejudicava o bicho; também poderia matar. Como a primeira criatura a falecer deste mal foi uma rola, a doença foi chamada de gripe das Aves. Todos receavam que o que acontecera à rola igualmente lhes sucedesse.

Na primavera, uma andorinha resolveu ficar pelo reino de Portugal. Ela contou histórias vividas até chegar a este país, referindo que havia passado por Itália e que a peste tinha começado naquela república, na bela cidade de Veneza.

O velho senhor continuava no luxo da sua moradia, mas outros não tinham a mesma sorte. Devido à epidemia, muitos perderam os seus negócios. As andorinhas não permaneceram no verão. As clareiras e prados, repletos de papoilas, lírios, narcisos, dentes-de-leão, estavam vazios.

- O rei não sabe pôr mão no bicho! – bradavam os republicanos pelas florestas e vales.

O jornal diário do reino falava nas crises com que os boticários lidavam nos seus lares.

O raposão, que agora era raposinho, uma vez que agora era ainda mais velho do que era, já não se levantava do seu leito. Contudo, nada o impedia de se levantar uma vez por dia para se sentar no seu cadeirão encarnado e daí olhar para o alargado horizonte, sendo que a toca era no alto de um monte.

Passou o tempo e o povo já se cansava da praga… No final de quase dois anos, acabaram por desenvolver a dita isenção. Os ratos que vinham da cidade de férias contaram que o bicho-homem não tinha sido afetado pela doença e as corujas e os bufos estudavam essa situação tão intrigante.

Após três semanas sem se ver o velho raposão à janela, um grupo de animais resolveu entrar no aprisco. Desafortunado, o raposão já nem raposão era; era pura e simplesmente um corpo peludo. O pobre coitado batera as botas durante o seu confinamento. Os olhos e caras das criaturas empalideceram. Uns sentiam culpa, tristeza e mágoa; outros uma certa felicidade.

Se calhar, deva agora referir o desejo do canídeo. Embora solitário, maldoso e ladino, o desejo do velho raposão era que, quando morresse, estivesse rodeado de amigos e velhos companheiros. Porém, por causa da doença e da má gerência da praga, morreu solitário e sem o seu sonho se realizar.

                                                                                              Ricardo Rocha - 7ºC

Histórias da Ajudaris 2021

 

Se eu fosse uma criança injustiçada queria:

 

Ter uma vida feliz;

Restituir ao mundo a magia;

Amor de todos receber;

Banir o mal para o bem vencer;

Alertar para os direitos das crianças;

Libertá-las do sofrimento;

Humanizar as atitudes dos Homens;

Orgulhosa ficar quando a maldade acabar.

 

 

Impedir a desigualdade;

Não permitir a exploração infantil;

Fomentar o respeito por cada um;

Acabar com a exclusão social;

Não autorizar o abandono escolar;

Todo o Amor, Carinho e Alegria;

Igualdade, Abrigo e Segurança;

Liberdade e Educação para toda a Criança.

 

Centro Escolar de Barroselas

Turma B4B

Professora Filomena Pires

Histórias da Ajudaris 2021

 Se eu fosse...

Professora, pintora ou inventora

Não sei que decisão tomar...

Tenho que dar uma resposta

E não sei por qual optar.

 

Ainda sou pequenina

Mas já penso em ser bailarina

Disse à minha mãezinha

Para me dar uma ajudinha.

Ela disse para ser jardineira

Para cuidar da floreira.

 

Poderia ser neonatologista

Seria como uma flor a desabrochar

Entre choros e gritos aborrecidos

Entre a emoção dos pais a chorar.

 

Também pensei em ser atriz

Para poder entreter

E os meus filmes cómicos

Poderem ser felizes a ver.

 

Se eu fosse professora

Gostava de ensinar

Pôr os meus alunos a ler e escrever

Para um dia os formar.

 

Cozinheira poderia ser

E novos sabores fazer

Os clientes satisfazer

E um mundo conhecer.

 

Se eu fosse polícia

Ladrões prenderia

E todos ajudaria

Aplicaria coimas às infrações

Acabaria com os aldrabões.

 

E se fosse veterinária?

Animais iria ajudar

Para alguém os amar.

Também poderia ser cabeleireira

Cortar, pintar e pentear

Todas as pessoas arranjar

E assim as alegrar

 

Se eu fosse piloto

Levaria pessoas a viajar

Para conhecer novos países

E fazê-las sonhar.

 

E se eu fosse bombeira

Salvaria muitas pessoas

Ali ao longe e à minha beira.

 

Se eu fosse palhaço

Colocaria todos a rir

Faria malabarismos

E deixar-me-ia cair.

 

Já sei, vou ser médica...

Para segurar na mão de um velhinho

E dizer-lhe bem baixinho

Que tudo ficará bem,

mesmo que demore um bocadinho.

 

Vou ser médica

Farei de tudo para encontrar uma solução

Quer seja um adulto, um velhinho ou um menino

Sem nunca perder a paciência, a fé e a esperança.

 

Vou ser médica

E a febre irei medir

O coração de toda a gente ouvir

E dar um remédio para fazê-los sorrir.

 

Vou ser médica

E a cura para o Covid encontrar,

Deixar as pessoas mais felizes

E tornar o mundo melhor para habitar!

 

B2B - Centro Escolar de Barroselas

Professora Liliana Arezes

 

Histórias da Ajudaris 2021

 

Se eu fosse…

 

Certo dia, estava eu na casa dos meus avós, sem nada para fazer, pois eles estavam na conversa com o meu tio que tinha acabado de chegar de Espanha. Então, lembrei-me de ir andar no baloiço do jardim. Quando lá cheguei, comecei a pensar em muitas coisas… Aquele ambiente trazia bastante tranquilidade, até que vi uma formiga e pensei:

- E se eu fosse uma formi...nah.

Deitei-me na relva e comecei a pensar o que eu gostaria de ser.

- E se fosse uma carta? Iria viajar por todo o mundo, mas seria muito cansativo, por isso, não.

- E se fosse uma ave? Voaria todo o dia, por cima de campos e cidades, mas iria ficar exausta, por isso, não.

- Se fosse uma abelha? Voaria de flor em flor, mas poderia picar alguém sem querer e ficaria triste, então, não.

Pensei...pensei...e do nada, lembrei-me de uma medalha. SIM! Essa medalha que estás a pensar! Aquela medalha que fica no pescoço dos mais variados vencedores, aquela que se recebe com mérito, aquela que deixa um sorriso a quem a recebe...imagina estar no pescoço da Patrícia Mamona ou no peito de uma criança pequenina que levou uma vacina ou até pertencer a uma criança que participou no The Voice Kids e ficou na equipa do Carlão, ahahah!!! Se eu fosse uma medalha...gostaria de ser de ouro e estar no meio de outras iguais a mim na prateleira do Jorge Fonseca, ter sempre amigas para falar comigo e quando alguém o fosse visitar, iria olhar para a prateleira e ficaria impressionado com o nosso brilho.

- Ai que sonho!

De repente, a minha avó chamou-me... o meu tio já ia embora, por isso, fui despedir-me dele, e depois fui dar uma caminhada com os meus avós para aproveitar o dia de sol.

 

6.ºC

Professora Alice Ribeiro

Histórias da Ajudaris 2021


Se eu fosse um pássaro

Se eu fosse um pássaro, seria colorido, com plumagem azul e preta, um bico longo para apanhar peixes nos rios e nos mares e seria um apaixonado por viagens.

Voaria pelo mundo até as minhas asas se cansarem, exploraria terras, vilas e cidades. Viajaria pela Europa e iria da Ásia até às Américas, passando por África, Oceania… enfim, seria um pássaro curioso que gostaria de viajar e conhecer o mundo. Sobrevoando as florestas mais extensas e as mais pequenas, as cidades mais habitadas e as aldeias mais isoladas, tomaria contacto com as mais variadas culturas dos diferentes países dos vários continentes. E, quando a minha jornada terminasse, estaria cansado, mas ao mesmo tempo muito feliz por concretizar um sonho meu e de muitas pessoas – conhecer o mundo. Por outro lado, sentir-me-ia bastante triste e preocupado com tudo o que está a acontecer no Planeta. Tomaria maior consciência de que estamos a viver uma era em que ocorrem grandes alterações climáticas, por ficar encharcado nas várias chuvadas por que passaria, com as minhas penas coladas de petróleo nos mergulhos nos oceanos e muitas vezes com as patas presas nos plásticos e nas redes que inundam esses mares. Nesses momentos de aflição em que me debateria com o plástico abandonado pelos humanos, aperceber-me-ia de que o mundo está cada vez mais poluído e de que é urgente parar para que a Mãe Natureza não sofra mais.

Assim, ao longo desta maravilhosa viagem ficaria, muitas vezes, receoso pela minha vida e pelo futuro do Planeta, porém esperançoso que os seres humanos tomem consciência a tempo da gravidade da situação e usem a sua inteligência para salvar o Planeta Terra, que é de todos.

 

6.ºA

Professora Alice Ribeiro

 

 

Concurso "Escrever é viver- textos juvenis em tempo de pandemia"



PARABÉNS
, Margarida Cruz, pela Menção Honrosa!
Aluna do 9.ºC da EBS de Barroselas.

Asfixia do Pensamento – Um grito de liberdade

 

Nunca me apercebi ao certo o quão ruim a situação estava até ele morrer.

Morrer. Uma palavra tão forte, com um significado tão leve, uma pequena transição para o vazio, para o lugar nenhum e para o todo. Uma palavra que te obriga refletir só de pensar nela, que te faz temer só de a imaginar, e que te permite libertar quando te deparas com ela.

Era o meu pai. Era meu amigo e meu confidente. Meu suporte e meu tudo.

Nunca imaginei que seria desta forma, tão abrupta e asfixiante. Uma ironia da minha escrita, visto que foi dessa exata forma que ele faleceu, ou pelo menos é o que dizem os médicos, os doutores da sabedoria e da informação, os heróis desta nação. Poupem-me! Estou farta. Cansada de esperar alguém bater-nos à porta, com uma solução milagrosa de uma vida melhor. Desiludida com o mundo, com o povo incapacitado de lidar com isto e com os que governam. Cada decisão mais desastrosa que a outra! Salvando cada vez mais indivíduos, curando-os, em contrapartida condenam os outros, o resto que morreu e ainda morre, dolorosa e lentamente, num leito dos Cuidados Intensivos, até seu último suspiro se fazer presente, ou melhor, ausente.

Eu, sinceramente, acho que já cheguei nesse ponto, na morte espiritual digo.

Na vontade desmerecida de tentar e falhar.

Cheguei ao fundo do poço.

Já que nem com a escola me preocupo. Até mesmo no momento em que uma ágil e silenciosa mão se infiltrou pelo bolso do meu casaco, nem aí eu me importei, o corpo do ladrão colidindo contra o meu, e os míseros cinco euros que eu tinha para lanchar se esvaíram. Como a vida dele, naquele hospital, naquela maca, as respirações entrecortadas, dando às máquinas um pouco de descanso antes de cumprirem a sua função com outro paciente, até este morrer ou milagrosamente levantar-se e sair de cabeça erguida pelas portas do hospital indo em direção ao sol radiante que o espera como uma segunda oportunidade, coisa que meu pai nunca mais terá a possibilidade de fazer.

Eu tento me lembrar que ele está morto, sem vida, com os órgãos paralisados num movimento que jamais conseguirão executar. Mas mesmo que passe todo o infeliz segundo a advertir-me, nunca é o suficiente, ele está lá comigo, a toda a hora, a todo o momento.

Uma vez ouvi dizer: “As pessoas que nos amam nunca nos deixam e poderás sempre encontrá-las aqui, no coração.” finalmente descobri o verdadeiro significado dessa citação. Ele estará sempre comigo, vendo-me tentar tornar o que sempre quis ser, o meu e seu próprio orgulho.

Pai, eu sentirei a tua falta, juntamente com a minha já escassa liberdade.

 

Margarida Cruz

9ºC nº12

Escola Básica e Secundária de Barroselas

Concurso "Escrever é viver- textos juvenis em tempo de pandemia"

 Concurso "Escrever é viver"

Como tudo aconteceu

Tudo mudou repentinamente. Começámos a ver cada vez mais notícias acerca do novo vírus e a ficarmos cada vez mais assustados… Novo vírus ou um que tinha voltado a atacar? De algo tenho a certeza: voltou com toda a força.

Olá! Eu sou a Maria João, vivo em Barroselas, pequena vila do concelho de Viana do Castelo, sou uma aluna do 9º ano e a minha vida deu uma volta de 180 graus desde o último ano. Toda a gente sofreu com esta pandemia mundial. Pessoas que tinham ainda a vida a meio faleceram, casos aumentam todos os dias, a proibição da nossa vida continuar normalmente… tudo nos foi arrancado e causou um impacto e uma dor mais forte do que uma faca a ser arrancada do peito. Posso parecer exagerada, porém, é isso mesmo que quero ser! Esta pandemia é um assunto muito mais delicado e frágil do que parece.

Muitas pessoas minhas conhecidas disseram-me:

«Sabes Maria… toda a gente diz mal do Covid, mas, a verdade é que com a quarentena aprendi muitas coisas novas!»

A minha reação a isto foi: «Boa, mas, não as poderias ter aprendido sem o Mundo estar a sofrer uma pandemia mortal?»

ATENÇÃO: não estou a julgar as opiniões de ninguém porque eu mesma posso contar a minha «versão da história» de março de 2020.

*ligo a televisão*

«Jornal afirma que 1º contágio da covid-19 na China foi em novembro.»

Eu: Ui! Outro vírus… que bom.

Pai: Tinha de vir da China.

Mãe: Tu não comeces também.

Eu: Vou mudar de canal, pode ser?

Pai: Shiiu! Quero ouvir.

--------------------------------------Passado algum tempo----------------------------------------------

«Escolas irão fechar por apenas duas semanas devido ao número elevado de contágios do novo Covid-19.»

Eu: Olha que bom! Duas semanas para eu dormir mais! Afinal este covid ainda vai ser nosso amigo!

«Alunos irão começar a ter aulas online devido ao covid-19.»

Mãe: Eu já sabia que isto ia acabar por acontecer…

Eu: Sabias? Olha, eu já não estou a gostar muito disto. Não deve ser por muito tempo, também.

Pai: Não te fies nessa, Maria.

Pois é! Acabámos o 3º período com aulas online. Já não estava muito bem mentalmente em relação a isto. A minha família começava a ser infetada e a minha preocupação só aumentava.

2021 chegou! «2021 VAI SER UM ANO MELHOR»- ouvia eu repetidamente. Já não existiam grandes expectativas da minha parte. Tudo parecia vago e a minha vida estava cada vez mais escura e longe de encontrar um raio de luz.

Voltaram as aulas presenciais, no entanto, pouco tempo depois de 2021 ter começado, outra notícia chocou todos. Alunos vão para casa de novo durante uma semana! Ao ver aquilo pensei: «quem é que eles querem enganar com uma semana? Oh meu Deus.» Eu estava certíssima! Ficámos um mês em casa a ter aulas online e neste momento estamos na escola de novo… será que vai ser definitivo? Ninguém sabe.

Mas com isto, eu só queria mostrar os meus sentimentos ao longo da pandemia. Mudou bastante, certo?

Para que fique bem claro, eu não me tornei numa pessoa infeliz! Felizmente, ainda tenho as pessoas que mais amo ao meu lado e espero que elas não me deixem agora. De algo eu tenho a certeza: a pandemia fez-me repensar em muitos acontecimentos e possíveis cenários futuros… pensei, pensava e penso. Neste momento, eu só quero que as pessoas que me rodeiam estejam bem e que possam fazer as suas atividades e o que gostam sem guardas a mandarem-nas colocar a máscara ou afastar-se mais um pouco dos seus amigos. Eu também mudei muito com tudo isto. Sou agora uma pessoa muito mais madura e consciente, no entanto, acho que estou a crescer rápido demais, mas é o que tem de ser!

Eu também tenho medo e sinto-me mal por estar a perder a parte da minha vida que era suposto ser «o highlight de tudo». Estes anos que estou a passar fechada eram para ser os melhores? Bom, acho que não estão a ser, mas vou tentar vivê-los mais tarde e aproveitar ao máximo o facto de ainda estar viva.

No final, posso sempre dizer aos meus netos que sou uma sobrevivente do Covid-19 e espero seriamente que eles fiquem admirados e orgulhosos de mim porque isto não está a ser muito fácil.

 

Maria Felgueiras  9.ºD

 

Concurso "Escrever é viver- textos juvenis em tempo de pandemia"




Concurso "Escrever é viver- textos juvenis em tempo de pandemia", uma iniciativa do Instituto Multimédia.

PARABÉNS
, Cátia Oliveira, pelo 3.º lugar!
Aluna do 7.ºD da EBS de Barroselas.

O meu avô

 

            O meu avô Zé nasceu a 4 de setembro de 1944, em Miranda do Douro.

Aquando do seu nascimento, a sua mãe não tinha o apoio de ninguém; era maltratada pela própria família, pois, naquele tempo, ser mãe solteira não era algo aceite pela sociedade. Cresceu no meio rural, onde sempre teve de ajudar no campo, cuidar dos animais e ocupar-se de uma tia doente.

            Entrou para a escola primária por volta dos 8/9 anos e, ao chegar ao último ano, ou seja, no momento de fazer o chamado exame da 4ª classe, a professora pediu-lhe a cédula. Ao ver que o apelido (Lopes) do meu avô não era aquele que constava nas assinaturas dos testes (assinava sempre com Diego, que era o apelido da mãe), ficou espantada, pois ignorava que era filho de pai incógnito.

            Naquela altura, mesmo sem ainda o reconhecer verdadeiramente como filho, o progenitor, apesar de tudo, zelava pela sua educação e, querendo incentivá-lo a estudar, prometeu-lhe então que, se concluísse o exame final com sucesso, oferecer-lhe-ia uma bicicleta. Na verdade, o meu avô ficou aprovado, mas o prometido tardava a aparecer. Vendo toda esta injustiça à sua volta e sentindo-se um pouco desamparado, cresceu nele uma enorme revolta interior. Consequentemente, recusava-se a desempenhar as tarefas domésticas e agrícolas que lhe eram destinadas, acabando por abandonar o lar materno para ir viver com uma tia, que morava numa aldeia vizinha.

            Num misto de revolta e de desejo de afirmação, típico da adolescência, e tendo bem presente o episódio da História de Portugal em que D. Afonso Henriques declarou guerra à sua própria mãe, o mesmo decidiu o meu avô fazer com o pai. Assim, conseguiu gerar uma reação do outro lado e, finalmente, aos 14 anos, recebeu a prometida e tão ambicionada bicicleta.

            Contudo, havia ainda uma grande mágoa dentro de si: o apelido Lopes nunca mais lhe era reconhecido e isso entristecia-o. Certo dia, o pai do meu avô lá resolveu ir ao Registo Civil e trouxe consigo uma nova cédula. Foi ter com o filho, que se encontrava a pastorear os animais num terreno baldio, e atirou-lhe  a nova cédula para o chão, com um semblante carrancudo, avisando-o de que, dali em diante, se deveria portar melhor.

            Por volta dos 20 anos, depois de ter cumprido o serviço militar em Leiria, no Regimento de Artilharia nº4, tirou a especialidade de escriturário porque já era uma pessoa muito instruída para aquela época. Entregue a ele próprio, sem o apoio de ninguém, decidiu escrever uma carta ao general responsável pelas províncias de Angola e Moçambique, pois não tinha dinheiro. Um mês depois de a declaração ter ido a despacho, saiu na ordem de serviço o número mecanográfico do meu avô, onde constava também que seria colocado em Moçambique.

            Chegou a Maputo em julho de 1966 para trabalhar como escriturário. Em fevereiro de 1974, nasceu a sua primeira filha e, pouco tempo depois, deu-se a Revolução de 25 de abril, momento em que voltou para Portugal com a sua família, como retornado. Neste regresso, ainda aconteceu a desgraça do barco onde viajavam ter-se incendiado e terem perdido todos os bens, ficando apenas com a roupa que tinham no corpo e com 20 mil escudos no bolso.

            No ano de 1976, nasceu o segundo filho para grande alegria da família. Naquele tempo e, por ser um rapaz, sempre andou na escola e estudou até à idade de 15 anos. Era um menino muito acarinhado por toda a gente da aldeia, visto que era acólito na igreja, fazia parte do grupo de Pauliteiros de Duas Igrejas e jogava futebol na Associação Desportiva. Infelizmente, apesar de tudo parecer estar bem, este adolescente ansiava por liberdade e, quiçá, por uma vida melhor que, naquela aldeia e naquele tempo, não poderia ter, pois os pais obrigavam-no a trabalhar quer nas tarefas agrícolas quer a cuidar dos animais, o que o impedia de viver a sua mocidade. Aos 15 anos, suicidou-se (com pesticidas) e, até hoje, ninguém sabe o motivo pelo qual o desfecho deste menino foi tão trágico.

            Mais tarde, depois de a sua filha ter a vida encaminhada, o meu avô tornou-se condutor manobrador de máquinas industriais, tendo trabalhado numa empresa transformadora de inertes, durante 30 anos. No ano de 2001, nasceu a sua primeira neta, e, dois anos depois, ficou viúvo. O nascimento da segunda neta, em 2008, trouxe-lhe novo alento, renovando o seu espírito e prendendo-o à vida.

            Aos 65 anos, em 2009, aposentou-se e, tirou o curso das Novas Oportunidades, tendo ficado com equivalência ao 9º ano de escolaridade e adquirido as noções básicas das Tecnologias de Comunicação e Informação, que o capacitaram a utilizar com autonomia os computadores. Algum tempo depois, participou num curso de poda e aprendeu ainda a tocar acordeão. Nos últimos anos de vida, dedicou-se à plantação de árvores de frutos secos, designadamente amendoeiras, nogueiras e avelãzeiras.

Porém, decorrida uma década, a sua vitalidade e alegria começaram a esmorecer. Uma permanente indisposição e fadiga consumiam-no e sentia-se que o seu estado de saúde piorava dia após dia. Fora cinco vezes ao hospital de Miranda do Douro e sempre lhe ocultaram a verdade, receitando-lhe medicamentos de proteção do estômago (e não tratando com a devida urgência da sua grave doença). Assim, a 8 de fevereiro de 2020, a filha e a neta mais velha, resolveram ir buscá-lo a Duas Igrejas, dado o seu estado de saúde se ter agravado e os médicos não apresentarem explicações claras nem soluções.  

No dia 10 de fevereiro do mesmo ano, deu entrada no Hospital de Viana do Castelo, sendo rapidamente atendido graças ao apoio de uma enfermeira, grande amiga de minha mãe. Após ter feito vários exames, os médicos revelaram-lhe, ao fim de três dias, que tinha um cancro no estômago em estado avançado e que não poderia fazer quimioterapia porque o seu coração já só funcionava a menos de metade da sua capacidade.

Perante tal “veredicto”, toda a família ficou atónita, sentindo uma grande consternação e impotência. Nessa altura, estávamos na primeira fase da Covid-19, o que não favoreceria a situação. O meu avô ficou apenas hospitalizado dois dias nos cuidados paliativos para acertar a medicação, regressando a casa da filha, onde passou o resto dos seus dias com todo o conforto e amor da família.

O meu avô acabou por falecer a 11 de maio de 2020, em Viana do Castelo, vítima de um cancro no estômago, que, infelizmente, não foi detetado a tempo.

A parte mais difícil e dolorosa foi na hora da despedida, visto que, em plena pandemia, não pudemos realizar a merecida cerimónia religiosa, o que não permitiu que muitos dos seus amigos e familiares estivessem presentes para um último adeus.

            Partiu para sempre, mas deixou os seus ensinamentos, o seu espírito guerreiro e esta mensagem para as suas netas: “Sejam pessoas educadas e honestas durante a vida. Tentem aprender sempre mais para se tornarem cultas. Não desistam daquilo que são e lutem pelos vossos objetivos, sem nunca querer magoar o próximo. Nunca é tarde para aprender e sejam felizes!”.

            Bem-aventurados os netos que têm um avô como um meu avô Zé. Têm, sim, porque permanecerá bem vivo nas nossas memórias e sempre presente nos nossos corações.

 

Cátia Oliveira, 7º D, nº 2