Concurso "Escrever é viver- textos juvenis em tempo de pandemia"



PARABÉNS
, Margarida Cruz, pela Menção Honrosa!
Aluna do 9.ºC da EBS de Barroselas.

Asfixia do Pensamento – Um grito de liberdade

 

Nunca me apercebi ao certo o quão ruim a situação estava até ele morrer.

Morrer. Uma palavra tão forte, com um significado tão leve, uma pequena transição para o vazio, para o lugar nenhum e para o todo. Uma palavra que te obriga refletir só de pensar nela, que te faz temer só de a imaginar, e que te permite libertar quando te deparas com ela.

Era o meu pai. Era meu amigo e meu confidente. Meu suporte e meu tudo.

Nunca imaginei que seria desta forma, tão abrupta e asfixiante. Uma ironia da minha escrita, visto que foi dessa exata forma que ele faleceu, ou pelo menos é o que dizem os médicos, os doutores da sabedoria e da informação, os heróis desta nação. Poupem-me! Estou farta. Cansada de esperar alguém bater-nos à porta, com uma solução milagrosa de uma vida melhor. Desiludida com o mundo, com o povo incapacitado de lidar com isto e com os que governam. Cada decisão mais desastrosa que a outra! Salvando cada vez mais indivíduos, curando-os, em contrapartida condenam os outros, o resto que morreu e ainda morre, dolorosa e lentamente, num leito dos Cuidados Intensivos, até seu último suspiro se fazer presente, ou melhor, ausente.

Eu, sinceramente, acho que já cheguei nesse ponto, na morte espiritual digo.

Na vontade desmerecida de tentar e falhar.

Cheguei ao fundo do poço.

Já que nem com a escola me preocupo. Até mesmo no momento em que uma ágil e silenciosa mão se infiltrou pelo bolso do meu casaco, nem aí eu me importei, o corpo do ladrão colidindo contra o meu, e os míseros cinco euros que eu tinha para lanchar se esvaíram. Como a vida dele, naquele hospital, naquela maca, as respirações entrecortadas, dando às máquinas um pouco de descanso antes de cumprirem a sua função com outro paciente, até este morrer ou milagrosamente levantar-se e sair de cabeça erguida pelas portas do hospital indo em direção ao sol radiante que o espera como uma segunda oportunidade, coisa que meu pai nunca mais terá a possibilidade de fazer.

Eu tento me lembrar que ele está morto, sem vida, com os órgãos paralisados num movimento que jamais conseguirão executar. Mas mesmo que passe todo o infeliz segundo a advertir-me, nunca é o suficiente, ele está lá comigo, a toda a hora, a todo o momento.

Uma vez ouvi dizer: “As pessoas que nos amam nunca nos deixam e poderás sempre encontrá-las aqui, no coração.” finalmente descobri o verdadeiro significado dessa citação. Ele estará sempre comigo, vendo-me tentar tornar o que sempre quis ser, o meu e seu próprio orgulho.

Pai, eu sentirei a tua falta, juntamente com a minha já escassa liberdade.

 

Margarida Cruz

9ºC nº12

Escola Básica e Secundária de Barroselas

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