Asfixia do Pensamento
– Um grito de liberdade
Nunca me apercebi
ao certo o quão ruim a situação estava até ele morrer.
Morrer. Uma palavra
tão forte, com um significado tão leve, uma pequena transição para o vazio,
para o lugar nenhum e para o todo. Uma palavra que te obriga refletir só de
pensar nela, que te faz temer só de a imaginar, e que te permite libertar
quando te deparas com ela.
Era o meu pai. Era
meu amigo e meu confidente. Meu suporte e meu tudo.
Nunca imaginei que
seria desta forma, tão abrupta e asfixiante. Uma ironia da minha escrita, visto
que foi dessa exata forma que ele faleceu, ou pelo menos é o que dizem os
médicos, os doutores da sabedoria e da informação, os heróis desta nação.
Poupem-me! Estou farta. Cansada de esperar alguém bater-nos à porta, com uma
solução milagrosa de uma vida melhor. Desiludida com o mundo, com o povo
incapacitado de lidar com isto e com os que governam. Cada decisão mais
desastrosa que a outra! Salvando cada vez mais indivíduos, curando-os, em
contrapartida condenam os outros, o resto que morreu e ainda morre, dolorosa e
lentamente, num leito dos Cuidados Intensivos, até seu último suspiro se fazer
presente, ou melhor, ausente.
Eu, sinceramente,
acho que já cheguei nesse ponto, na morte espiritual digo.
Na vontade
desmerecida de tentar e falhar.
Cheguei ao fundo do
poço.
Já que nem com a
escola me preocupo. Até mesmo no momento em que uma ágil e silenciosa mão se
infiltrou pelo bolso do meu casaco, nem aí eu me importei, o corpo do ladrão
colidindo contra o meu, e os míseros cinco euros que eu tinha para lanchar se
esvaíram. Como a vida dele, naquele hospital, naquela maca, as respirações
entrecortadas, dando às máquinas um pouco de descanso antes de cumprirem a sua
função com outro paciente, até este morrer ou milagrosamente levantar-se e sair
de cabeça erguida pelas portas do hospital indo em direção ao sol radiante que
o espera como uma segunda oportunidade, coisa que meu pai nunca mais terá a
possibilidade de fazer.
Eu tento me lembrar
que ele está morto, sem vida, com os órgãos paralisados num movimento que
jamais conseguirão executar. Mas mesmo que passe todo o infeliz segundo a
advertir-me, nunca é o suficiente, ele está lá comigo, a toda a hora, a todo o
momento.
Uma vez ouvi dizer:
“As pessoas que nos amam nunca nos deixam e poderás sempre encontrá-las aqui,
no coração.” finalmente descobri o verdadeiro significado dessa citação. Ele
estará sempre comigo, vendo-me tentar tornar o que sempre quis ser, o meu e seu
próprio orgulho.
Pai, eu sentirei a
tua falta, juntamente com a minha já escassa liberdade.
Margarida
Cruz
9ºC nº12
Escola Básica e Secundária de Barroselas
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