Prémio António Manuel Couto Viana 2021

 

A viagem

      Terminei o meu percurso escolar obrigatório e depois de pensar bastante, e com a recolha de opiniões de familiares e de conversas entre amigos, resolvi fazer um intercâmbio.

      No início, a minha mãe estava com medo e receio de me deixar ir e de não conseguir adaptar-me, mas correu tudo bem. Quando eu soube que ia fazer uma viagem destas juntamente com mais 19 pessoas, foi uma notícia espetacular porque sempre sonhei com algo assim. Isto foi algo que eu sempre quis fazer e que realmente gosto não só pela experiência de conhecer novas pessoas, novos hábitos, novos rituais, mas também novas culturas. Fiquei super feliz por ir. Porém, rapidamente a felicidade foi embora e deu lugar à tristeza, pois os meus amigos que também se inscreveram não foram escolhidos. Assim que recebi a notícia, fiquei mais em baixo por saber que não iria ter ninguém conhecido que me pudesse acompanhar nesta aventura, mas não me deixei tomar pela tristeza e pensei positivo.

     Então, quando cheguei à Grécia, tudo era tão diferente e novo comparativamente com o que estava habituado em Portugal. Mal chegámos ao aeroporto da Grécia, já no início da tarde, a primeira coisa que fizemos foi ir de autocarro até à praia mais próxima. Era um sítio tão silencioso e relaxante… a água era tão límpida que se conseguia ver o nosso reflexo, algo impressionante. Uma areia fina que os meus pés ao tocarem nela parecia que estavam em cima de algodão, era como se estivesse no paraíso. Nós ficamos todos encantados com toda aquela maravilha. Depois de sairmos da praia a meio da tarde, fomos de autocarro para o hotel onde íamos ficar hospedados, chegámos aos quartos e ficámos deslumbrados com todo aquela perfeição. Entrei no quarto e a primeira coisa que fiz foi descansar. Eu dormi confortavelmente e por bastante tempo naquela cama que era tão macia e aconchegante. Quando olhei para o relógio, já eram horas do jantar, descemos todos e fomos para a sala. Foi um jantar cheio de risos e gargalhadas, falámos de tudo e mais alguma coisa, foi uma diversão total num bom ambiente. No final de estarmos todos em convívio para sabermos um pouco mais da história de cada um e para nos integrarmos melhor, regressámos cada um para os seus quartos. Mal cheguei à cama, adormeci logo, visto que estava cansado da viagem. Logo que acordei, estava um sol lindo e brilhante, o céu limpo e com uma temperatura agradável. Descemos dos quartos e fomos todos juntos tomar o pequeno almoço. No fim, decidimos fazer algo radical e fomos mergulhar com as tartarugas. Esta atividade foi mágica e incrível, nunca tinha feito nada parecido, foi uma experiência de recordar para a vida. Durante a tarde, resolvi ir passear pelas ruas próximas do hotel e encontrei alguns moradores como a Clara e o Ricardo, entre outros, com quem estive à conversa durante muito tempo. Eles são os dois irlandeses, vieram comigo nesta viagem à Grécia e estiveram a contar-me coisas sobre a Irlanda como as tradições, a religião, entre outras curiosidades. Posso dizer que fiquei espantado e pensei para mim que o próximo país que tinha de conhecer seria a Irlanda. Quando dei por mim, já se tinham juntado mais pessoas à conversa num largo que se situava perto do hotel. Foi uma boa tarde em conversa em que aprendi tanto sobre religião, comidas, tradições, customes, entre outras coisas. Quando olhei para o relógio, já se fazia tarde, eram horas de regressar ao hotel. O nosso jantar foi sushi ao ritmo de músicas gregas e ainda demos uns passinhos de dança. No fim, como já estávamos cansados, fomos para os quartos. Sobre o dia posso refletir que foi intense, senti-me feliz e priveligiado por ter conseguido fazer a viagem e ter conhecido aquele país e aquelas pessoas. Contudo, durante a noite, acordei ao som de uns barulhos estranhos, estavam a gritar. Levantei-me da cama, coloquei o robe por cima do pijama e tomei coragem para ir até à porta do quarto, pois os sons vinham do corredor. Entretanto fui ver o que se passava quando dei de caras com dois homens encapuzados a raptarem os meus colegas. Fiquei em pânico e sem reação, sem saber o que fazer. Então decidi pedir ajuda; fui chamar pelos restantes colegas de viagem que ainda não tinham sido sequestrados e tentamos chamar a polícia para resolver aquilo e nos proteger. Os meus colegas raptados estavam a ser levados para a sala do hotel. Enquanto a polícia não chegava, já bastantes colegas estavam a ser retirados dos quartos à força pelos homens encapuzados. Passado algum tempo a polícia chegou, mas quando demos por ela, o hotel estava a ser invadido. Mal percebi isso, fiquei em estado de choque e sem saber o que fazer, não podia sair dali estava o terror instalado. A polícia já estava a montar um cerco no hotel. Todavia, mesmo assim comecei a pensar em maneiras de sair. Consegui ir ter ao quarto da Clara e os dois estávamos a pensar em maneiras de sair dali. Até que olhei para ela e no cabelo tinha um apertador, peguei nele, descemos até uma porta traseira do hotel e conseguimos abri-la. Ninguém percebeu, conseguimos escapar e fomos ter à tenda da polícia contar que havia uma porta aberta que poderiam usar para entrar lá dentro. Através dessa porta, a polícia conseguiu libertar mais dois colegas meus, o Ricardo e a Francisca, sem os homens encapuzados darem por isso. De repente, os homens colocaram-se em frente ao hotel do lado de fora e tiraram a máscara. Nesse momento, nem pude acreditar no que estava a ver. Eram os meus amigos que não foram aceites na viagem, afinal foram repescados. Apesar daquele susto todo e aflição, estava contente por ter os meus amigos e conhecidos por perto e ainda bem que aquele susto não passou de uma brincadeira perigosa.

      No final desta adrenalina toda, fomos todos jantar e comemorar a vinda de novos colegas. No terceiro dia, de manhã, ficámos no hotel a descansar de toda aquela emoção do dia anterior. À tarde, fomos todos andar de barco, aproveitámos e mergulhámos no mar. Ao entardecer, voltámos para terra e ficamos à beira mar a observar o pôr do sol. Regressámos ao hotel, jantámos e fomos dormir, e assim se passaram três dias e no dia seguinte já seria o penúltimo. Nasceu um novo dia, o penúltimo, e resolvi ficar a descansar no quarto e assistir a alguns filmes na televisão com uma vista maravilhosa. No último dia na Grécia, de manhã, fomos caminhar à beira mar em forma de despedida. Almoçámos e no final seguimos de autocarro em direção ao aeroporto.

      Da experiência que tive na Grécia, país onde decidi ter esta vivência, posso dizer que foi uma boa aposta de viagem. Posso afirmar que foi uma viagem espetacular, onde aprendi bastante a nível cultural, mas não só. No final desta viagem, aprendi que todos conseguimos aquilo que desejamos, basta acreditar, ter fé e fazer por isso acontecer. É bastante positivo passer por novas experiências como a de conhecer novos países com o objetivo de enriquecer a nossa cultura e de saber um pouco mais sobre o mundo.  De facto, “O saber não ocupa lugar”.

 

 

Prémio António Manuel Couto Viana 2021

 Prémio António Manuel Couto Viana 2021

Biblioteca Municipal de Viana do Castelo


               UM POÇO DE SENTIMENTOS

 

Sou um poço de sentimentos.

Rio e choro,

Grito em silêncio para me manter forte,

Cheia de sorte e azar,

Com gargalhadas no espírito,

Mas lágrimas a derramar.

 

Será por ser mulher?

Será por ser jovem?

Será por ser humana?

Tanto pulo de alegria,

Como num instante,

Caio de tristeza.

Vivo as cores do arco-íris

E danço ao som do trovão,

Não por ser mulher, jovem e humana,

Mas sim, porque tenho coração.

 

Sou um poço de sentimentos,

Que transborda e espalha amor,

Que colhe a dor,

E tudo transforma em esperança.

Em dias mais escuros, minha alma reluz

E dança, dança, dança...

Aos olhos de uns, sou maluquinha,

Para outros, meiga e feliz,

Para outros, prendada e sortuda…

 

Sou um poço de sentimentos,

De lamentos e de tudo o que possa haver.

Digam o que disserem,

O importante é ter vida e saber viver.

 

 

                                                                                Fátima Monteiro Grilo -  7.ºC


Prémio António Manuel Couto Viana 2021

 

                                    A justiça

 

A justiça engloba o respeito;

Há quem não a pratique,

Por isso, perde o direito.

E ainda há quem a critique…

 

Somos todos iguais

Não devemos perder a esperança,

Pois há sempre algo em nós

Que inspirará e dará confiança.

 

Pela justiça temos de lutar

Porque é um direito da sociedade;

Mesmo que a dúvida se queira instalar,

Pugnemos pela igualdade e liberdade.

 

                                                     Inês Amorim Taveira –  7.º C

 

 

 

 

Prémio António Manuel Couto Viana 2021

 

RETALHOS DE VIDAS

 

  Emaly Evans era uma jovem senhora de 27 anos, morena, com cabelos encaracolados e olhos amendoados, magra e de média estatura.  Frequentadora assídua do Café Majestic, ali se encontrava tranquilamente na noite do dia 17 de março, às 22h00, desfrutando do prazer da leitura.

  Transportada pela narrativa para outra dimensão e alheia a qualquer movimento circundante, só se apercebeu na hora de pedir a conta de que alguém deixara na sua mesa um bilhete com um contacto. Seria mesmo para ela? Terá sido aquele indivíduo misterioso e enigmático com o qual se cruzara na rua Santa Catarina e cujo olhar sentira pousado nela?

Emaly voltou para casa com a pulga atrás da orelha e, escusado será dizer, teve uma noite perturbada e mal dormida.   Mal amanheceu, e, ainda estremunhada, digitou o número no telefone fixo. Após um compasso de espera, atendeu uma voz grave e masculina, que se identificou como sendo Bernard Mustard. A jovem inteirou-o acerca do que se passara na noite anterior e o sujeito confirmou ser a mensagem da sua autoria, apressando-se para a convidar para um encontro, na tarde desse mesmo dia, pelas 16h00, no mesmo emblemático café do Porto.

Intrigada e apreensiva, mas muito curiosa, compareceu no local com pontualidade britânica, onde a aguardava um gentleman bem parecido, de bigode, óculos e chapéu de coco, com cerca de 30 anos e de estatura média, saboreando o seu café e fumando o seu pensativo cigarro. Por momentos, Emaly acreditou vislumbrar o vulto de Fernando Pessoa, mas o que realmente descobrira foi que Bernard Mustard era um poeta e pintor, que aspirava editar um livro original com poesia e desenho da sua autoria. Emaly tornou-se a sua musa e o artista criou o best-seller da literatura britânica intitulada “She looks like an inspiration”.

 Anos mais tarde, depois de uma perfeita parceria, com livros e livros publicados, Bernard Mustard e Emaly Evams apaixonaram-se no decorrer da génese de uma outra obra comum, que intitularam “Love is worth”.  

Passados nove meses, abrandaram a sua criação literária conjunta para se dedicarem inteiramente à sua obra-prima: o filho recém-nascido, ao qual deram o nome de William, em homenagem ao dramaturgo William Shakespeare. Viveram com e para o filho, em perfeita harmonia familiar, colhendo da vida doce fruto.

     Porém, a plena felicidade é efémera…   Dali a quase duas décadas, Bernard Mustard veio a perecer inesperadamente devido a complicações de saúde decorrentes do tabagismo, deixando Emaly e o seu filho de 19 anos entregues a eles próprios. Foi grande a dor, mas, iluminados por uma estrelinha celeste, prosseguiram o seu caminho, de olhos postos no futuro, unidos e cheios de esperança.

Aluno brilhante, William concluiu a sua formação superior em Engenharia Mecânica e rapidamente ascendeu profissionalmente, conquistando a sua autonomia financeira, e sem nunca esquecer de apoiar a sua querida mãe. Com 52 anos, Emaly casou-se novamente com Andrew Oliver, um belo homem de barba rija e olhos verdes, que viria a ter uma ótima relação com o enteado.  

      William Evans completara 29 anos quando se apaixonou pela sedutora Rachel Harrison, por sinal uma mulher fria e arrogante. Na verdade, a seta de Cupido foi parar ao sítio errado e o puro Amor resultou em tragédia. Talvez pelo facto de o seu amor não ser correspondido…, talvez por ter vivido demasiado tempo inteiramente dedicado à mãe…, talvez pela mágoa que sentira ao perder o pai…, talvez pelo conjunto de todos estes fatores…, William pôs fim à vida.

Eis alguns retalhos de vidas… E, sim, a vida é uma caixinha de surpresas.

Tomás Silva 7.ºD

Prémio António Manuel Couto Viana 2021

 

 Tesouro

 

Tesouro do mato,

De onde vem teu ouro,

Tão vivo e inato?

 

Vem dos pacíficos sobreiros,

Dos olivais do rio Tejo,

Das águas dos ribeiros,

Dos pastos e castanheiros.

 

Tesouro do Ocidente,

O que são tuas relíquias

De verde e sangue quente?

 

Semente de Sol e pinho,

Palavras de Portugal:

Conquista, Cravo e Vinho

Com Hino Nacional.

 

Ricardo Araújo 7.ºC

 

 

 

 

Prémio António Manuel Couto Viana 2021

 

A minha cidade

 

A minha cidade

É um mundo de magia

que me faz sempre muita companhia

 

Viana do Castelo

Enche- me de emoção e alegria

Com os sons da Srª da Agonia

 

A minha cidade

Tem uma bela paisagem

Que deixa uma bela imagem

 

Viana do Castelo

Tem um belo cheiro a maresia

Mas ainda tem mais encanto a vista de Santa Luzia

 

                                                         Matilde Alves Puga – 7º C 

 

 

 

Prémio António Manuel Couto Viana 2021

Prémio António Manuel Couto Viana 2021

Biblioteca Municipal de Viana do Castelo


A Vida

 

A vida é curta demais

Para desperdiçar com angústias e lamentos

Devemos aproveitar cada momento.

 

A vida é curta demais

É amor, amizade e esperança

Não há espaço para vingança.

 

A vida é curta demais

É fantástica e encantadora

Não a podemos desperdiçar

Com o que não tem valor.

 

A vida é curta demais

Exige muito de nós

Mas somos fortes e lutadores

E dela desistimos, jamais!

 

A vida é curta demais

Não esperes pelo porvir

Vive o dia de hoje

O amanhã pode não existir.

 

                                                                                                                            Beatriz Alves – 7ºD


Prólogo

 

(Aproxima-se da boca de cena o Diabo de Gil Vicente, majestoso e imponente. Vem de semblante melancólico, como quem lhe pesa já da anacrónica tarefa.)

Diabo: São decorridos já cinco longos séculos desde que certo Gil, que não tinha nem ceitil, decidiu castigar os costumes do seu tempo, fazendo rir o Venturoso rei de Portugal e a sua corte de damas opulentas. Não sei que professorzito, que corre atrás do prejuízo e que se esfarrapa para mostrar evidências tardias, levou os seus alunos a trazerem-me de novo a este temeroso cais.

Pois, têm razão, parece que ninguém mais o teme já. Desde que certo Darwin, ele próprio com longes de símio, decretou que o Homem descendia do macaco, adeus medo ao Inferno. Adeus aos bons tempos da minha glória. A sem-vergonha instalou-se e campeia desenfreada. Mesmo ali o das asas branquinhas não é o mesmo. Desconfio que é uma Ângela, pelos olhares gulosos que atira aos meus músculos potentes e luzidios. Bem dizia certa personagem do vosso Eça, a uma certa Adeliazinha adúltera: “Minha porca, até o Diabo te serve?”

Ai que não serve! Aqui onde me veem parece que os quinhentos anos não passaram por  mim. Só esta barca me desagrada, tão antiquada, tão feia, tão gasta… Tamanha é a crise que chegou ao Além… Ainda se enviou um pedido ao excêntrico do Elon Musk, com a promessa de tratamento especial, mas ele prefere antes o sonho espacial – que não podia, que queria chegar a Marte… Está bem, que sonhe, que a Morte também lhe há de chegar…

Para mais, vejam ali aquele fedelho mafarriquelho, sentado na barca a esgaravatar não sei em que geringonça que emite uns sons e umas imagens como nunca vi em milénios da minha vida. O meu companheiro dos tempos do velho Gil subiu na carreira: baba-se todo a dar palmadas no rabo de professoras primárias violentas com os seus pupilos. Anda agora com o pau todo, como vocês costumam dizer, sempre enrolado com a Florença do Frade. Mas este, honra lhe seja, atira-se-lhe de espada em punho – ora sus, demos caçada! -  mais cioso do que um sultão turco do seu harém. Entorna-se a panela do óleo a ferver com que o está a pingar um outro diabrete, e nem vos digo, é um verdadeiro inferno. Mas reparem lá neste diabrete:

Diabo: Que fazes tu, barzoneiro, levanta má-hora esse cu!

Diabrete: Ó stor, deixe-me só postar um like!

Diabo: Apostar na Laica? Mas que julgas tu, meu mafarriquete? Achas que estás numa casa de apostas, ou então na escola onde os professores te preparavam a papinha toda? (Dá-lhe uma pancada com um remo.)  Aqui tens a ritalina, meu grande mandrião, aqui tens os calmantes! Faz essa poja lesta, atesa aquele palanco!

Diabrete: Mas o que é isso, stor? Posso ir ver ao Google?

Diabo: Ver ao quê? Estou mesmo fora da jogada. Preciso de meter baixa à espera da reforma… Mas coitadito do mafarriquito, tão novo e eu tão desatualizado… Acho que tenho mesmo de lhe fazer adequações curriculares!

De qualquer modo, tudo isto é uma alegoria - os vícios humanos, debaixo duma camada superficial, com renovada roupagem, são sempre os mesmos. Sempre os mesmos sonhos, as mesmas ilusões, os mesmos enganos e desenganos… Só o fim é que é o mesmo, pois –

no ponto que acabamos de espirar, chegamos supitamente a um rio, o qual per força havemos de passar em um de dous batéis que naquele porto estão, scilicet, um deles passa pera o paraíso e o outro pera o inferno

Aventurem-se também vocês nesta viagem e riam-se. Riam-se enquanto podem…

 

O Político

(Entra um político corrupto carregado de pertences…)

Dirige-se ao anjo:

Político - Hou da barca!

Anjo - Eu não sei quem te cá traz.

Político - Nelson Paes. Santo Anjo, para onde me levais?

Anjo - Comigo não ireis vós embarcar por todos os males que fizestes.

Político - Ahm?! Que fiz eu de errado?

Anjo - Roubou o capital do seu povo como um grande burlão. Por conseguinte, neste batel não entrais.

Político - Como queiras, procurarei eu outro, então.

(Nelson Paes avista outra barca e dirige-se até ela…)

Diabo - Olha quem vem lá! Se não é Nelson Paes, o mais venerado de todos os políticos! Entrai logo p’ra cá que não tendes outro caminho a seguir, já que o Anjinho de Pau Oco não te vendeu o bilhete para o seu barquinho. Hehehe.

Político - E para onde se dirige esta outra barca tão maltratada?

Diabo - Para a terra onde te esperam indivíduos tão poderosos como tu, meu senhor…

Político - Tão cínico que este cornudo me saiu, aí dentro não irei eu pôr nem a ponta dos meus pés. Prefiro ficar aqui a pairar do que ser um dos teus sacrificados.

Diabo - HAHAHA! Estou a ver que tenho aqui um banana, que ainda não percebeu que o seu destino está definido. Não empates mais e salta para perto de mim.

(Nelson Paes, sem opção, acaba por ser arrastado para o batel infernal.)

 

Grupo: Gabriel, Tânia e Tiago

  

Político

(Entra o político com um saco de dinheiro às costas e dirige-se ao anjo)

Político – Ó da barca!

Anjo – Quem vem lá?

Político – Não sabeis quem sou? Não aguardáveis por mim? O meu lugar está reservado na barca divina desde o momento que nasci.

Anjo – Mentiras! Ninguém nasce com lugar no paraíso. Agora vejo quem sois… Com essa presunção e vaidade… José Mendonça é vosso nome. Mas no batel que protejo não há espaço para deslealdade e mentira.

Político – Mas o que insinuais? O atrevimento que revelais é realmente admirável, mas devo dizer que posso desgraçar a vida de qualquer um com o poder que tenho.

Anjo – Não sejais tolo. Aqui, o poder não vale nada e nesta barca não tocareis. Ide pedir entrada noutro batel.

(O político dirige-se ao arrais do inferno)

Diabo – José Mendonça! Quanta honra! Porquê a demora?

Político – O sujeito de vestido branco não me deixou vir mais cedo. Ainda há espaço para mim nesse batel moribundo?

Diabo – Que pergunta tola que fazeis! Claro que há espaço para vossa beldade neste batel moribundo!

Político – E esta barca tem o mesmo destino que a outra?

Diabo – Não. Tem um destino muito melhor.

Político – Mas que lugar será melhor que o paraíso?

Diabo – Basta olhar para a minha tripulação e já se vê que o submundo é muito melhor do que o lugar entediante onde aquele anjo arrogante vive.

(o político repara na presença de Brísida Vaz)

Político – Aaaah, agora entendo o que quereis dizer com tripulação. Brísida Vaz, o que fazeis aqui? Viestes atrás de mim?

Alcoviteira – Eu? Nunca iria atrás de tal aberração! Os tempos que vivemos são águas passadas.

Político – Mal-agradecida… Nem o dinheiro que vos ofereci em vida tornou a vossa pessoa mais amável. Devíeis ter aceitado o dinheiro em troca dos vossos serviços…

Alcoviteira – Sim… dinheiro que não vos pertencia. Eu não aceito dinheiro roubado e nem quero ser o motivo do desgosto de vossa esposa. Pobre criatura sofredora…

Político – Mas o que é isto? Será que não há aqui pelo menos uma alma que me respeite?

Alcoviteira - Alma jumenta que vós sois… Neste batel não há respeito por aquele que limpa o cu ao dinheiro do povo e põe os cornos na mulher. Eu não presto serviços a ladrões mentirosos. Eu também sou do povo, meu senhor, e lembro-me bem das falsas promessas que fizestes.

Político – Mais mentiras! Eu fiz de tudo pelo bem do meu povo!

Alcoviteira – Sai da minha vista! Não quero ver o vosso focinho malparecido.

(o Diabo arrasta o político para dentro do batel infernal, enquanto este tenta resistir)

Diabo – Chega de conversa! Vem comigo José Mendonça… Vamos nos divertir tanto! Ahahaahaha.

Político – Desgraçados ingratos! Hão de me pagar!

(Assim, José Mendonça vive no inferno para toda a eternidade)

 

Grupo: Beatriz, Simão e Tomás


Amiga da Onça

Vem a Amiga da Onça, dirigindo-se à barca da Glória. Esta é interrompida pelo Arrais do Inferno:

Diabo        Para aí! Para onde vais?

A. Onça     Para a barca da Glória,

                   Para onde mais eu iria?

Parvo        Já tu não sabes quem és?

A. Onça    Não sabeis vós?

                   Eu sou a Amiga da Onça,

                   bela demais para entrar naquela geringonça.

 

Diabo        Geringonça qual quê?!

                   Se te achas tão formosa,

                   como podes tu ter

                   uma alma deveras horrorosa?

                   Em verdade te digo:

                   no fim do juízo final

                   entrarás no batel

                   de que sempre falaste mal!

 

A. Onça     HAHAHAHAHAHA!...

                  

A Amiga da Onça, dando as costas ao Diabo, segue o seu caminho até à barca do Anjo

 

A. Onça      Ó grandioso Anjo salvador!

                     A minha luz e salvação!

                     Uma só coisa lhe peço:

                     leve-me consigo, por favor,

                     e salve-me do opressor.

 

Parvo          “Leve-me consigo, por favor”

                      Onde já se viu tamanha interesseira?!

                      Deve ter perdido a memória

                      devido àquela caganeira.

 

A. Onça        Cornudo sejas, seu comedor de varejas!

                      Ó da barca da Glória!

                      Tu que és o meu amparo,

                      não desvies de mim o teu rosto,

                      não me dês tamanho desgosto.

                      Não me entregues ao Pecador.

Anjo              Neste batel divinal

                       não entram almas de mal.

                       Escrita estás, no entanto,

                       no caderno das ementas infernais.

                       Sabemos que em plena vida terrena,

                       os teus instintos naturais

                       eram o ódio e a ganância,

                       tais aspetos que te prendiam

                       nessa teia de ignorância.

 

Parvo             Xô, xô que já vais tarde!

                       A barca dos danados te espera,

                       para te levar a ti e ao teu cu covarde

                       para bem longe desta merda.

 

 

A Amiga da Onça, exausta e resignada, cede ao conselho do Parvo e dirige-se à barca infernal.

 

Diabo             Agora vem ela lá,

                        com o rabo entre as pernas.

                        Entra, entra!

                        Não nos detenhamos mais,

                        cumpra-se a vossa sentença

                        e abandonemos este cais.

 

Grupo: Ana, André Dinis e Mónica.

 


A Terrorista

O ambiente no purgatório era tenso com almas ansiosas e receosas para saber o seu destino.

Vem uma terrorista de terno preto, cara tapada com um lenço negro, uma bomba na mão e de arma às costas.

DIABO- Vinde, vinde, entrai para o maior dos paraísos. Sois todos bem-vindos!

TERRORISTA- Que algazarra venha a ser esta? Quem sois vós, tão cornudo?

DIABO- Algazarra? Pensais que sois quem? Cornudo, eu? (rindo ironicamente)

TERRORISTA- Eu, Andreia Dias, uma das mulheres mais temidas de todo o mundo, ajoelha-te perante mim, seu imundo!

DIABO- Olhai para vós, com esse cano às costas e essa bolinha na mão, é para brincar com o timon e fazer pumba?

TERRORISTA- Calai-vos! Parai de zombar de mim. Já matei mais de uma centena de pessoas, em nome de Alá. E vós? Sois um desgraçado sem respeito!

DIABO- Deixai-vos de conversa e entrai na barca para a ilha perversa.

TERRORISTA- De que estais a falar vós?

DIABO- Do lugar mais sombrio, onde vagueiam almas condenadas às chamas.

TERRORISTA- Recuso-me a embarcar neste batel infernal! Não há outro navio funcional? (A terrorista olha em volta à procura de outra barca até que avista um ser num outro navio com vestes brancas e dirige-se a ele)

TERRORISTA- Ó da barca. (gritando) Para onde ides vós?

ANJO- Que quereis?

TERRORISTA- Será esta a barca para o paraíso?

ANJO- É sim.

TERRORISTA- Então penso que tenha um lugar para eu embarcar.

ANJO- Aqui não se embarca malfeitores.

TERRORISTA- Então certamente poderei entrar neste batel divinal.

ANJO- Recuso-me a levar-te para a terra divina. Esse lenço negro carrega o sangue de pessoas inocentes.

TERRORISTA- Como te atreves a insinuar tal atrocidade? Tu com essas luzes de natal, já mais poderás ser alguém divinal.

ANJO- Chega de conversa banal, volta para o batel infernal!

DIABO- À BARCA! Despachai-vos seus inúteis, estamos prestes a partir. (A Terrorista cabisbaixa aceita a decisão do Anjo e dirige-se frustrada à barca do Diabo. Os navios partem para os seus respetivos destinos)                 Grupo: Ana Filipa, André Dias, Leticia

Jaqueline Rousse, O Travesti

O cais do Além encontra-se silencioso, enquanto isso o Diabo espera por novos passageiros para a sua barca. Repentinamente, aparece ao longe um ser não identificado.

Diabo – Avisto algo ao longe que até o meu cérebro para - eu estou a ver bem, ou é algo de vestido e barba na cara?

Travesti – Na sua barca eu vou embarcar, gosto de conversar, espero que o senhor não seja mudo... Não sei o que aconteceu na Terra mas você com esses cornos de certeza que foi cornudo.

Enquanto isso, o Diabo encontra-se paralisado e boquiaberto.

Travesti – O senhor não vai falar? Eu cá, Jaqueline Rousse, até me admira, sendo o meu corpo uma boa peça. Você não deve querer falar comigo, porque tem medo de ficar com mais peso na cabeça.

Diabo – Tenho mais que fazer do que aturar bichonas! Eu sou o Diabo, do Inferno sei muito mais que tu; então cale sua boca ou naquele mastro enfio o seu cu.

Travesti – Paixão por mim eu sei que tu sentes, não me importo de ir para o Inferno, consigo amarei ter climas quentes.

Diabo – Tu conseguiste-me irritar, para a humanidade é uma grande marca, experimenta ir ao meu amigo ali na outra barca.

Travesti - Aiii! Tão pouca sensibilidade… Olhe que eu vou mesmo. Tenho a certeza que vou deixar saudade.

O Diabo vira as costas ao Travesti. Travesti assim dirige-se com pouca esperança para a barca do Anjo.

Travesti (cantando) – E roda… E roda… E roda… Agora vou ter com o anjinho que está de vestido branco, fora de moda.

Anjo – O senhor sabe bem que não vai entrar, este traje que você criticou não é para lhe agradar. No Inferno você pagará pelos seus pecados, todos os portões do Céu para você estão fechados.

Travesti – Que senhor qual quê, espero que esse pensamento fique contido! Eu vou entrar sim, Jesus andava com 12 homens atrás dele, e de vestido!

O Anjo desconsidera o que Jaqueline diz, voltando-lhe as costas.

Travesti – Duas barcas enormes para me levar, e nenhuma delas me aceita embarcar.

Diabo e Anjo (em sincronia) – Pela primeira vez temos de concordar, este no purgatório vai ficar.

Assim, a alma de Jaqueline Rousse fica a vaguear eternamente pelo purgatório.

Grupo: Alexandre, Carolina e Leonardo