RETALHOS DE VIDAS
Emaly Evans era uma jovem senhora de 27 anos,
morena, com cabelos encaracolados e olhos amendoados, magra e de média estatura.
Frequentadora assídua do Café Majestic,
ali se encontrava tranquilamente na noite do dia 17 de março, às 22h00, desfrutando
do prazer da leitura.
Transportada pela narrativa para outra
dimensão e alheia a qualquer movimento circundante, só se apercebeu na hora de
pedir a conta de que alguém deixara na sua mesa um bilhete com um contacto.
Seria mesmo para ela? Terá sido aquele indivíduo misterioso e enigmático com o
qual se cruzara na rua Santa Catarina e cujo olhar sentira pousado nela?
Emaly
voltou para casa com a pulga atrás da orelha e, escusado será dizer, teve uma
noite perturbada e mal dormida. Mal amanheceu,
e, ainda estremunhada, digitou o número no telefone fixo. Após um compasso de
espera, atendeu uma voz grave e masculina, que se identificou como sendo Bernard
Mustard. A jovem inteirou-o acerca do que se passara na noite anterior e o
sujeito confirmou ser a mensagem da sua autoria, apressando-se para a convidar
para um encontro, na tarde desse mesmo dia, pelas 16h00, no mesmo emblemático
café do Porto.
Intrigada
e apreensiva, mas muito curiosa, compareceu no local com pontualidade
britânica, onde a aguardava um gentleman bem parecido, de bigode, óculos
e chapéu de coco, com cerca de 30 anos e de estatura média, saboreando o seu
café e fumando o seu pensativo cigarro. Por momentos, Emaly acreditou
vislumbrar o vulto de Fernando Pessoa, mas o que realmente descobrira foi que Bernard
Mustard era um poeta e pintor, que aspirava editar um livro original com poesia
e desenho da sua autoria. Emaly tornou-se a sua musa e o artista criou o best-seller
da literatura britânica intitulada “She looks like an inspiration”.
Anos mais tarde, depois de uma perfeita parceria,
com livros e livros publicados, Bernard Mustard e Emaly Evams apaixonaram-se no
decorrer da génese de uma outra obra comum, que intitularam “Love is worth”.
Passados
nove meses, abrandaram a sua criação literária conjunta para se dedicarem
inteiramente à sua obra-prima: o filho recém-nascido, ao qual deram o nome de William,
em homenagem ao dramaturgo William Shakespeare. Viveram com e para o filho, em
perfeita harmonia familiar, colhendo da
vida doce fruto.
Porém, a plena felicidade é efémera… Dali a quase duas décadas, Bernard Mustard veio
a perecer inesperadamente devido a complicações de saúde decorrentes do
tabagismo, deixando Emaly e o seu filho de 19 anos entregues a eles próprios. Foi
grande a dor, mas, iluminados por uma estrelinha celeste, prosseguiram o seu
caminho, de olhos postos no futuro, unidos e cheios de esperança.
Aluno
brilhante, William concluiu a sua formação superior em Engenharia Mecânica e
rapidamente ascendeu profissionalmente, conquistando a sua autonomia
financeira, e sem nunca esquecer de apoiar a sua querida mãe. Com 52 anos, Emaly
casou-se novamente com Andrew Oliver, um belo homem de barba rija e olhos
verdes, que viria a ter uma ótima relação com o enteado.
William
Evans completara 29 anos quando se apaixonou pela sedutora Rachel Harrison, por
sinal uma mulher fria e arrogante. Na verdade, a seta de Cupido foi parar ao
sítio errado e o puro Amor resultou em tragédia. Talvez pelo facto de o seu
amor não ser correspondido…, talvez por ter vivido demasiado tempo inteiramente
dedicado à mãe…, talvez pela mágoa que sentira ao perder o pai…, talvez pelo
conjunto de todos estes fatores…, William pôs fim à vida.
Eis
alguns retalhos de vidas… E, sim, a vida é uma caixinha de surpresas.
Tomás Silva 7.ºD
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