Concurso “Uma Aventura Literária 2021”
Modalidade:
Texto original
Danebi
Sofia era
uma criança inteligente e criativa. Na sua infância, ela tinha dezenas de
amigos que brincavam com ela em casa. Enquanto ela crescia, estes amigos iam
desaparecendo e só mais tarde ela se apercebeu que eram só amigos imaginários,
criações da sua cabeça que não tinham vontade própria. No entanto, ela
conseguia ver os amigos imaginários dos seus colegas, apesar de estes não os
conseguirem ver. Então, ela entendeu aqueles seres como criaturas de uma
espécie visível só para ela.
Havia um
desses seres que nunca a largava e que esteve sempre lá, com ela, desde que ela
se lembra. Ele autointitulava-se Therion e afirmava ser o seu Danebi. Ele
explicou que todas as crianças tinham o seu Danebi e que estes se mostram
presentes ao longo das suas infâncias. Quando
elas estão a cair e do nada põem o pé à frente, são eles que o empurram para
elas conseguirem segurar-se, ou então quando parece que elas vão escorregar,
eles apanham-nas de forma a equilibrarem-se. Quando as crianças completam 18
anos, já conseguem tomar conta de si próprias, por isso eles saem e voltam para
o seu mundo, tendo uma folga de 18 anos, até terem uma nova criança para tomar
conta.
Therion era
o porto seguro de Sofia e seu maior confidente, às vezes até lhe dizia o que
tinha acontecido no dia, esquecendo-se de que ele a seguia para todo o lado. Com
o passar do tempo, ela começou a adorar aquele sentimento de ter alguém sempre
por perto. Sofia já era adolescente e com a adolescência chegavam os primeiros
amores. Eles começaram a criar fortes sentimentos um pelo outro, o que gerava
várias situações cómicas.
Eles foram
crescendo assim, habituando-se à presença um do outro, até que só faltava 1
semana para Sofia fazer 18 anos. Ambos tinham evitado tocar no assunto até aí,
mas era algo que necessitava de ser tratado. Therion explicou-lhe que não havia
nada que pudesse ser feito, mas Sofia nunca foi muito de desistir. Consequentemente,
começaram a tentar elaborar um plano, pensando em todos os pormenores e
maneiras de se manterem juntos.
Já se tinham passado 6 dias
quando Sofia teve uma ideia maluca. Ela já tinha
ouvido Therion dizer que havia um chefe supremo dos Danebis, que era quem fazia a
correspondência entre cada Danebi com cada criança de acordo com a
personalidade de cada um. A ideia dela era pedir ao chefe supremo dos Danebis
que a deixasse ficar lá, no mundo deles, nem que ela precisasse converter-se num Danebi. Ela estava disposta a
deixar tudo para ficar com Therion.
Quando ela
contou a ideia ao Therion, ele discordou, mas depois de ela tanto insistir e de
refletir sobre o infortúnio que seria nunca mais a poder ver, acabou por aceitar. Primeiro,
Sofia falou com a mãe sobre o assunto. Ela nunca tinha contado nenhum segredo à
sua mãe, pois, ao contrário das outras jovens, ela tivera Therion. No início, o
silêncio reinava entre as duas, mas quando finalmente abriu a boca, só se ouvia
uma rapariga entusiasmada a falar tudo acerca dos Danebis e do mundo deles, do
chefe supremo e da sua despedida, e, acima de tudo, de Therion. No final, para
surpresa de Sofia, a mãe, pálida e calada, com os olhos marejados de lágrimas,
simplesmente assentiu com um ambíguo pesar no rosto. Havia algo na face da mãe
que ela não conseguia entender, era como se ela estivesse a sorrir enquanto o
resto a cara gritava, triste e zangada. Ela abraçou a mãe, dando-lhe um forte apertão,
como se fosse a última vez, o que na realidade era verdade.
Ficaram assim algum tempo,
até que o pai de Sofia entrou na sala. Ele sempre fora um homem rijo e de
aspeto austero, contudo tal não correspondia com a sua personalidade. Ele era
sensível e afetuoso e logo que entrou na sala, lavou-se em lágrimas. Tinha
ouvido tudo do outro lado da porta. Sofia também o abraçou, já com saudades de
ambos sem ter ainda ido embora. Quando o relógio tocou as
doze badaladas, Sofia viu um portal a abrir-se bem à frente do Therion. Era
agora ou nunca. Ela despediu-se dos pais, acenando-lhes, gesto que eles
repetiram, e depois, com uma só passada, atravessou o portão.
Therion
foi levado lá para dentro, ao passo que Sofia foi abandonada numa aldeia lá
perto. Por mais que ela implorasse para ser levada para o mesmo sítio que ele,
não adiantava de nada. Ninguém a ouvia. Naquela aldeia, ela era maltratada e
vista como uma assassina em série, pronta para matar qualquer pessoa que
aparecesse à frente. As pessoas olhavam-na com desdém e não paravam de segredar
quando ela passava. Ela tentou isolar-se numa estalagem perto do centro da
aldeia, enquanto preparava um plano para resgatar Therion. Ela começou por
dividir o seu objetivo em duas partes. Primeiro, entrar na prisão e segundo,
salvar Therion.
Poucos
dias se tinham passado e, quando Sofia estava na fila do mercado, avistou um
jornal com a cara de Therion. Apressou-se a apanhar um e a ler a notícia. No
final, ela começou a sentir um aperto no coração. Therion seria morto dentro de
7 dias. Ela pagou as coisas e foi-se embora. Ela tinha de o tirar dali o mais
rápido possível. Focou-se na primeira parte do salvamento: conseguir
infiltrar-se. Seria difícil, pois, pelo que Therion explicara, a única coisa
mais difícil do que entrar lá era sair. Ela focou-se primeiro em como
atravessar o precipício, depois como penetrar a muralha, até chegar a como se
infiltrar na prisão. Quando acabou de formar o plano A, pensou no B e no C,
seguidos do D, sempre assim até achar impossível haver qualquer outra
interferência no plano. Ela precisava sair viva de lá. Se ela não saísse de lá
com vida, Therion morreria.
A parte
mais difícil era subir a muralha com uma corda e um tijolo. Levantou a corda o
mais alto que conseguiu, mas mesmo assim parecia não chegar. Numa das suas
tentativas falhadas, bateu com o braço contra a parede o que, milagrosamente,
fez a parede abrir-se. Ela aproveitou aquela passagem e depois de seguir um
caminho travesso, chegou ao seu objetivo. Quando um guarda estava a passar
perto dela, ela incapacitou-o e trocou as suas roupas. Assim, ela não seria
reconhecida.
Ela tinha
conseguido infiltrar-se. Agora só precisava de salvar Therion.
Inês
Barbosa 9.ºB
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