O Homem e o Filósofo
Dr. Manuel Costa Freitas foi “a frente e o verso”
do Dia Mundial da Filosofia da EBS de Barroselas
Projeto Ler+Jovem na senda
Texto │Rosa Cruz Fotografia │Armando Novo
Desde 2002 que a UNESCO consagrou no calendário o dia 16 de novembro como o Dia Mundial da Filosofia. Na EBS de Barroselas, porém, fruto de um plano articulado de atividades transversais, essa efeméride foi celebrada com uma semana de dilação, organizada em dois momentos distintos mas complementares: 24 e 27 de novembro de 2017. O vulto central foi Manuel Barbosa da Costa Freitas (1928-2010), um ilustre barroselense, figura exemplar de dedicação ao estudo e humildade de partilha, padre franciscano, ofm, filósofo, pensador, homem de Deus e do pensamento.
A atividade foi desenhada no âmbito do Projeto Ler+ Jovem, que envolve de forma mais direta e exposta os alunos do 11º ano e a ARPB (Associação de Reformados e Pensionistas de Barroselas), num trabalho de base conjunto entre a Biblioteca Escolar e a disciplina de Português. Desta vez, porém, e como não podia deixar de ser, foi a disciplina de Filosofia a “estrela” do acontecimento.
Enquadrada por uma exposição de painéis alusivos ao ícone do conhecimento que lhe serviu de base, o evento foi organizado em dois momentos: um, mais orientado para o público em geral, decorreu no dia 24/11, no salão nobre da Junta de Freguesia de Barroselas, prestigiado pela comparência de numeroso público e coroado pelas principais entidades territoriais, contou com a presença de um outro ilustre intelectual franciscano, Pe. Joaquim Cerqueira, para nos dar testemunho sobre Costa Freitas - o homem e a obra. Obra esta que foi examinada magistralmente pelo primeiro palestrante, Nuno Fadigas, docente de Filosofia da Escola.
Segundo um protocolo muito simples, mas muito digno, coadjuvado pelo grupo de alunas da turma 11A, Nuno Fadigas seleccionou, desocultou, interpretou e explanou um conjunto de conceitos patentes na obra de Costa Freitas, com relevo para os de “ética na arte e na literatura”, “oração”, “trabalho”, e “perdão”.
Já no segundo momento, que aconteceu na Biblioteca da EBS, a atividade contou com o inestimável contributo complementar do Coordenador do PNC (Plano Nacional de Cinema), adquirindo novos contornos, mais condizentes com o novo público-alvo da atividade, sem se desviar do tema e seu conteúdo central. Emergiram, pois, valiosíssimas e verdadeiramente compreensíveis lições de sapiência em torno das capacidades humanas e da interação do Homem consigo próprio, com Deus e com o universo, tendo sempre como “pano de fundo” o pensamento filosófico de Costa Freitas, cuja grandiosidade consiste, segundo o palestrante, “num trabalho de missão”, por ter abdicado do seu estrelato e realizado um profícuo trabalho “sem visibilidade” (referindo-se de modo muito particular às mais de 160 entradas da sua autoria na enciclopédia «Logos»).
O filme, entretanto, exibido – cujas inspiração e criatividade inerentes à montagem dos diferentes fragmentos o conferencista classificou como “um verdadeiro trabalho de autor”, pela lógica interna que lhe foi conferida pelo Coordenador do PNC – , foi o mote para serem explorados temas como os do exercício do livre arbítrio e o da conciliação entre a razão e a fé. Com efeito, da sequência exibida sobressaiu de forma implícita, mas muito facilmente, a relação Filosofia – Cinema – Religião.
De permeio, vários outros autores e formas de arte e de pensamento iam sendo referidos, à laia de estabelecimento de paralelismos, como foi o caso do neurocientista português António Damásio que, insistindo na importância das Humanidades, afirmara recentemente numa entrevista que «Quando me perguntam qual é o maior cientista de sempre, respondo: na minha área, é Shakespeare»; de Primo Levi e a alusão ao seu livro «Se isto é um Homem»; dos diálogos entre Manuel de Oliveira e João Bénard da Costa, a propósito da importância do cinema e da “palavra filmada”.
Com tudo isto, o orador Nuno Fadigas exaltou os presentes a tomar consciência da existência de pessoas muito importantes na terra, no que foi secundado pelo próprio presidente da ARPB, Sérgio Gonçalves, a quem foi dado também um pequeno momento de peroração, no qual se congratulou com a iniciativa da escola e com o desafio e a honra de nela ter participado de forma ativa, tendo “confessado” estar a contribuir para o cumprimento de uma espécie de “promessa” feita a um outro franciscano de renome em Barroselas, P.e Arlindo Barbosa, que lhe teria pedido, em tempos, que se honrasse e se divulgasse a obra de Manuel da Costa Freitas.
É este o pacto do Projeto Educativo do Agrupamento: envolvendo o máximo de mais-valias, dotar os jovens de conhecimento alargado, de cidadania, de civismo e espírito crítico. É também isso que está plasmado no “Perfil do aluno” do séc. XXI. É assim que a escola deve responder às exigências destes tempos cada vez mais imprevisíveis e de mudanças aceleradas, permitindo aos alunos a aquisição de múltiplas literacias para que, oportunamente, as saibam mobilizar. Por isso, nada melhor do que um evento de vulto como o que se desenvolveu em 24 e 27 de novembro passado para dar largas a esses desideratos.






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